sábado, 4 de novembro de 2017

MASSAPÉ

A negrada foi capturada para produzir o pão.
Terá que lanhar muito os pés neste chão.
Por todos os maus-tratos físicos,
o senhor não lhe pedirá perdão,
porque só o que lhe interessa,
são os lucros que receberá dessa exportação.

A negrada pisa na terra escura.
Afofá-la e trabalhar bem, ela procura.
Esta terra é carregada de nutrientes, 
mas não pode parar, para fugir do sol incandescente.

Da terra preta brotarão as mudas.
O senhor não oferece à multidão, nenhuma ajuda.
Ela trabalha firme, e em unidade!
Mas o senhor e o sol, não reconhecem
a negra humildade.

Refresca os pés nesta umidade.
Esquece das surras efetuadas pelo senhor covarde.
Trata da terra com muita amabilidade;
chora ao lembrar de sua natividade!

Rala suada em míseras condições,
apavora-se quando lembra-se dos grilhões!
Reza para que os seus irmãos não tenham
semelhante destino,
pois serem pegos facilmente pelos brancos,
seria um desatino.

A terra terá que estar bem madura para oplantio;
Terá que resistir ao estio.
Do árduo trabalho, nem escapam as mulheres
com crianças de colo.
Trabalham desgraçadamente para alimentar 
preto solo!

O açúcar da terra nascerá;
o conhecimento negro nunca se extinguirá!
De pai para filho foi passada a mágica,
que absorveram e frutificaram os massapés da África.


-Gabriel Ribeiro Eleodoro

Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2000.

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